Julho das Pretas – Que seja eterno enquanto houver resistência!
Há muito tempo que mulheres negras movem a política de várias nações. E junto a este movimento, elas trazem em si a importância de se exercer e lutar pela democracia.
Por mais que tentem silenciá-la, a democracia é um regime político que propõe a participação coletiva e igualitária, para que todos os cidadãos elegíveis participem da política de forma direta ou através de representantes eleitos, para propor, desenvolver e criar leis.
A garantia do seu exercício baseia-se em princípios básicos como “o princípio da maioria, o princípio da igualdade e o princípio da liberdade”. Mas o que vemos cada vez mais no país, são maiorias minorizadas, liberdades cerceadas e a igualdade diariamente sufocada pelas injustiças.
No Brasil, 51,8% da população é composta por mulheres e 28% destas mulheres são negras. De acordo com a PNAD Contínua de 2019, as mulheres negras representam o maior grupo demográfico do país e ocupam menos de 2% de cadeiras no congresso nacional. (Fonte: Mulheres Negras Decidem.org).
Nossos passos vêm de longe…
Mulheres negras estão na base de uma pirâmide social que as comprime há séculos. Os primeiros passos dados por mulheres negras e latinas rumo à ocupação dos espaços políticos, vem seguindo uma longa caminhada de resistência e rompimento de padrões.
Grande parte dos movimentos sociais da história encontraram nas mulheres negras seu alicerce, mas elas não receberam os créditos por isso. Em um especial gravado pelo Dia Internacional da Mulher Negra, no Youtube do Canal Preto, Angela Davis declarou que a maioria dos membros e principais lideranças do partido dos Panteras Negras, eram mulheres. O mesmo aconteceu em relação ao Movimento dos Direitos Civis dos Estados Unidos, onde além de Rosa Parks, tinha como suas principais mobilizadoras as mulheres negras.
Fica clara a tentativa de apagamento daquelas que sempre estiveram à frente e enfrentaram todos os padrões sociais e políticos, que queriam colocá-las à margem de tudo. Seja pela igualdade de gênero ou contra o racismo e sexismo, latinas, negras e caribenhas formaram e formam até hoje, a linha de frente da luta por mais respeito e igualdade.
São mulheres que não aceitam mais o papel de coadjuvantes que tanto a sociedade as impõe, e que hoje exigem serem reconhecidas como verdadeiras protagonistas de suas vidas e da sua própria história.
“Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”
Essa frase de Angela Davis é a constatação de que a participação de mulheres negras na política é um ato de resistência e mudança, capaz de mobilizar e trazer consigo muitas outras mulheres.
Através da presença de cada vez mais mulheres na política, seja no Brasil ou em outros países da América Latina, vemos surgir novas representantes desta pulsante e desbravadora pluralidade feminina, formada por mulheres decididas a ocuparem os lugares onde sua presença não é reconhecida de forma legítima.
Em um pequeno apanhado listamos algumas destas mulheres que protagonizaram e protagonizam, até os dias de hoje, um importante legado de mobilização no cenário político do Brasil. Elas foram e são aquelas que carregam toda a jornada que construiu a luta histórica da sua própria existência e da existência de tantas outras mulheres.
São verdadeiras potências que atuaram e atuam na política com o propósito de derrubar os muros do preconceito, mudar as estruturas do país e perpetuar suas trajetórias.
Antonieta de Barros – 1ª mulher negra eleita deputada estadual no Brasil
Lélia Gonzalez – intelectual, ativista e antropóloga; foi a 1ª mulher negra a se dedicar aos estudos de raça e gênero no Brasil
Luiza Bairros – ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil
Almerinda Gama – advogada, sindicalista e uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira e lutar pelo direito ao voto feminino
Benedita da Silva – deputada federal, foi a 1ª senadora negra, 1ª mulher negra na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e 1ª mulher governadora do Rio de Janeiro
Maria Olivia Santana – 1ª mulher negra deputada estadual na Bahia
Erica Malunguinho – 1ª mulher negra e trans eleita deputada estadual em São Paulo
Leci Brandão – cantora, compositora e deputada estadual em São Paulo
Erika Hilton – vereadora com mais votos na última eleição municipal, 1ª mulher negra e trans à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Jurema Batista – foi vereadora e deputada estadual no Rio de Janeiro
Marielle Franco – Socióloga e 5ª vereadora mais votada nas eleições do Rio de Janeiro em 2016
Julho, que seja eterno enquanto houver resistência!
O mês de julho carrega em sua essência a representatividade de mulheres tão plurais mas que ao mesmo tempo se aproximam, se unem e buscam de forma tão singular, o próprio pertencimento, respeito e liberdade de serem e estarem onde sonham estar.
O 25 de julho surgiu como o marco internacional de luta e resistência da mulher negra diante da necessidade de enfrentamento ao racismo e sexismo, vivido por aquelas que sofrem com a discriminação racial, social e de gênero.
É a africanidade e a latinidade feminina de mãos entrelaçadas fazendo história na luta por mais representatividade nos espaços políticos, e reforçando a importância destas mulheres em posições de poder e com o poder de decisão nas suas mãos.
“As rosas da resistência nascem do asfalto”.
Marielle Franco